sábado, 8 de maio de 2021

MAMÃE: DA FORTALEZA AO DECLÍNIO

Hoje já são oito dias da partida da melhor rosa do meu jardim e amanhã será meu primeiro dias das mães sem mamãe. Fiz o poema abaixo para ela, que sairá no meu próximo livro ENTRE LÁGRIMAS E SORRISOS. Parabéns para todas as mães e pra mamãe também, que continua mãe lá do céu.

 



MAMÃE: DA FORTALEZA AO DECLÍNIO

 

Sou penúltimo na prole da grandeza

Da mulher de catorze gestações.

Onze vivos, mas, três, a Natureza

Carregou para outras dimensões.

Corajosa, criou todo esse time.

O cuidado por todos se exprime.

Na batalha, Mamãe foi tão sublime,

Que venceu os diversos furacões.

 

O trabalho na roça, as plantações,

Permitiram a fartura de alimento.

No terreiro, diversas criações

Garantiam no bolso algum provento.

Preocupada com roupa, casa, escola,

Sem deixar se perder, nem cheirar cola.

Como pobre, nenhum pediu esmola.

Com papai arrumou nosso sustento.

 

Essa dama de fibra, cem por cento,

É mulher, soberana, absoluta.

Sem deixar nenhum filho ao relento,

Protegia-os de toda má conduta.

Numa olhada, impunha disciplina.

Rédea curta ao menino e à menina:

— “A criança daqui não se domina”,

Era a fala daquela mãe matuta.

 

Com o jeito, às vezes, de astuta,

Na maneira severa de educar.

A pro forma corrente, meio bruta,

Revelava-se tão peculiar.

Quem errasse, sofria a punição.

Começava buscando o cinturão,

Só batia fazendo a narração,

Explicando porque disciplinar:

 

— Essa surra que agora vai levar,

É por conta daquela safadeza.

Nunca mais você tente me enrolar,

Nem me venha mostrando esperteza,

Ou tentar descumprir advertência,

Incorrer nessa brusca displicência.

É melhor educar a consciência,

Ao invés, de apanhar pela brabeza.

 

Na cabeça, sobrava uma clareza,

Que qualquer filho deve obediência.

Educando, mostrou muita destreza,

Apontando o caminho, a coerência,

O limite, ensinado no respeito.

Residindo na roça, fez direito.

A medida aplicada, fez efeito,

Pois nenhum mergulhou na delinquência.

 

Pela luta arrojada, com frequência,

Teve a vida deveras desgastante.

A mulher lutadora por essência,

Pelo tanto de vezes que gestante,

Certamente rendeu alguma sequela.

A doença, aos poucos, chegou nela.

No pretérito, viveu como gazela,

Hoje, fica mais fraca a cada instante.

 

Cansativo, doído, angustiante,

Quando vi minha rocha, fraquejar.

Nosso tempo se faz de assaltante,

Pois, seu físico robusto, veio roubar.

Dor nos pés, nos braços e catarata.

Alguém pode dizer “isso não mata!”

Mas, o lúpus, moléstia muito ingrata,

Nunca mais permitiu-lhe sossegar.

 

Sua idade chegando, fez chegar

Diferenças no corpo sem demora.

Sente o fígado ou o rim sinalizar

Que o tempo é o mestre da piora.

Você vê sua mãe chorar de dor.

Na doença, o remédio do amor

Não parece trazer nenhum valor

Para a cura urgente da senhora.

 

Rezei tanto, pedindo uma melhora,

Suplicando a Deus por sua cura.

Se a resposta não vem, a gente chora.

E se vem, normalmente é muito dura.

O silêncio tremendo, resoluto,

Dessa árvore bendita, sou um fruto.

A cabeça, padece num minuto,

Sem saber quanto tempo a mãe perdura.

 

A fraqueza constante, já procura

Abrigar-se com a senilidade.

Com os anos, se perde essa estrutura

E se ganha maior fragilidade.

Em mamãe, quase sempre vejo isto.

Pela força gigante dela, insisto

Em pedir um milagre a Jesus Cristo,

Porque, mãe padecer, acho maldade.

 

Lavradora de credibilidade,

Enfrentou o trabalho mais pesado.

Da labuta fez sua identidade;

Da peleja, um marco do passado.

A mulher de coragem inconteste,

Enfrentou intempéries no Nordeste.

Porém, hoje, uma escada é um teste,

Que subi-la é negócio complicado.

 

Essa fera, indomável no passado,

No presente, está sem habilidade.

Seu cozido gostoso e temperado

Engordava qualquer uma beldade.

É difícil olhar para a senhora,

Diferente dos tempos de outrora.

Energia, aos poucos indo embora,

E trazendo maior fragilidade.

 

Normalmente, aos setenta de idade,

Nosso corpo é propenso a doença.

Minha mãe sofreu tanta enfermidade.

Pela vida lutou de forma intensa,

Enfrentou os percalços do roçado,

Destemida no cabo do machado.

Sem sonhar como pagaria dobrado,

Recebendo essa estranha recompensa.

 

Minha mente há tempos vive tensa,

Os meus olhos só fazem irrigações.

O acúmulo do tempo nos imprensa

A trazer mais cansaços e aflições,

Pois além de ser filho, virei fã.

Vejo nela o vislumbre do amanhã,

A mulher que de fato é tão cristã,

Porque vive sofrendo humilhações?

 

Procurando tirar suas tensões

Para o tempo de vida que lhe resta,

Sem sentir as reais preocupações,

Esquecendo qualquer tipo de aresta.

Tentarei proclamar tanta virtude,

Compensando essa falta de saúde,

Desejando uma vida em plenitude

E fazer desses anos muita festa.

 

Pela honra dessa mulher modesta,

Faço tudo que esteja ao meu alcance.

De caráter, sincera, justa, honesta,

Personagem do meu melhor romance,

Seguirei como o trem persegue o trilho,

Imitando a firmeza, valor, brilho.

Agradeço a Deus por ser seu filho,

Pela benção de ter tamanha chance.

 

Varneci Nascimento