sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O CANGAÇO E O LENDÁRIO LAMPIÃO




VIVER É LUTAR, ESCREVER É NARRAR  AS LUTAS

Nando Poeta tem resgatado uma tradição muito presente na trajetória histórica do cordel brasileiro: a crítica social e o denuncismo político. Foi assim com Leandro, o pai do cordel: embora sua face mais conhecida seja a de contador de histórias, é na observação preciosa do dia a dia da cidade do Recife onde planta sua independência e competência poética. Esquecida nos recantos de um quarto escuro historiográfico, os que tentam desencorajar os escritos engajados jogam mais fuligem sobre ela para que seja consumida pela omissão. Mas ela está viva e grita. Em A seca do Ceará:

O governo federal
Querendo remia o Norte
Porém cresceu o imposto
Foi mesmo que dar-lhe a morte.
Um mete o facão e rola-o
O Estado aqui esfola-o
Vai tudo dessa maneira
O município acha os troços
Ajunta o resto dos ossos
Manda vendê-los na feira.

Quando das instalações do trem da Great Western no Recife, todos lotados que ninguém aguentava mais, Leandro escrevia a crítica política ferrenha em Os coletores da Great Western:

E se alguém for se queixar
Diz-lhe o inglês: — O senhor
Deve agradecer a mim
Ter trem seja como for.
Mim botar trem no Brazil
Para fazer-lhe favor!

Ou a denúncia sobre o governo federal em A crise atual e o aumento do selo:

O governo federal
Acha que a coisa vai bem
E diz: “o dinheiro é pouco.
Deste eu não dou a ninguém
Porque eu não solto um pássaro
Por um que algum dia vem.

Pois bem, esse traço da poesia de Leandro é abandonado de propósito, deixado de lado, como se fosse pequeno, mas não o é. Em verdade é uma continuidade da poética acintosa de Gregório de Mattos, o Boca de Brasa, que não poupava ninguém. Leandro é o seu continuador. E não só Leandro, os pais do cordel, todos, aumentaram o volume de sua voz ao refletir sobre política e sociedade. Francisco das Chagas Batista não deixou por menos, abriu sua caixa de ferramentas e emendou versos poderosos narrando a escalada da Coluna Prestes e a resistência do Estado em Os revoltosos do Nordeste:

O Coronel Luiz Prestes,
Guiando os rebeldes, sai
Do Paraná e Mato Grosso,
Atravessa o Paraguay
E segue rumo ao Nordeste
Onde a Esperança o atrai.

Chagas Batista chega a tomar partido contra a família Maranhão que dominava o estado do Rio Grande do Norte durante a primeira metade do séc. XX. Canta sua lira em A salvação do Rio Grande do Norte:

A família Maranhão
É quem está governando
Aquele pequeno estado
Que agora vai se agitando
E com salvação política
Muito cedo vai sonhando!

Enganam-se os que imaginam que ao poeta de cordel cabe apenas a delicadeza dos bosques e das fadas, a rigidez lúdica das pelejas, o aproveitamento dos contos tradicionais da oralidade ou o fácil caminho das adaptações dos sucessos literários oficiais. Engano dobrado. Os nossos clássicos, os pioneiros fundaram a tradição política no cordel. Nando Poeta é apenas um sucessor contemporâneo. Com ele, os temas mais atuais, os mais polêmicos, os que necessitam de maior apuro tornaram-se corriqueiros e irrigam toda uma faixa de público ávido por esse tema, militantes que são. Cordéis em defesa dos direitos da mulher, de respeito à diversidade sexual, de reflexão sobre bullying nas escolas ou sobre a saga da consolidação dos direitos dos trabalhadores são a voz do poeta na boca de um narrador engajado ou de um eu-lírico consciente. Agora com este O cangaço e o lendário Lampião toma ares de romancista ao contar a história do famoso Capitão já tão decantado no cordel brasileiro. Como diria o próprio Chagas Batista, um dos pais do cordel, em A encrenca da Paraíba:

Eu, como escritor do povo,
Costumo meter o dedo
Nos casos de sensação
Que não exigem segredo
E, como não sou chaleira,
Conto a verdade sem medo.

Aderaldo Luciano
Dezembro de 2012

A SAGA DE JESUÍNO BRILHANTE.



Quando se fala em cangaço, o personagem mais lembrado é aquele considerado o maior deles, o primeiro sem segundo, o intrépido e temível Lampião. Todavia a história nos mostra que outros abriram o caminho para que ele passasse e reinasse praticamente incólume, sem que fosse abatido. Mas a história deixa as suas marcas e os historiadores poetas ou poetas historiadores estão sempre em busca destas para inovar sua arte, criar novas obras, encantar seus leitores. O cangaço de fato é um dos assuntos preferidos do cordel, mas não o único, pois a literatura é abrangente, está em busca dos mais simples aos mais complexos dramas humanos.
É o caso do cordelista natalense Nando Poeta radicado em São Paulo há cerca de cinco anos e que espalhou a sua poesia para o Brasil. Chegou tímido na Luzeiro buscando ler os clássicos dos cordéis brasileiros. Mas o seu apelido - Poeta, somado à sua história de vida que inclui engajamento nos movimentos sociais, aos poucos se tornaram um convite para lançar as redes em águas mais profundas no mar gigantesco do cordel. E ele seguiu um conselho interessante: “não tenha medo”. Corajoso, arriscou-se a escrevinhar as primeiras estrofes. De uma humildade singular, virtude nem sempre presente na maioria dos escritores, foi mostrando seus versos aos amigos que tem em boa parte do país. Os verdadeiros o incentivaram e corrigiram, os falsos elogiaram, os orgulhosos o mandaram parar e seguir no sindicato, os bondosos o abraçaram e o cordel mandou que ele seguisse lendo Leandro Gomes de Barros, José Camelo de Melo entre tantos outros gênios dessa arte secular.
O mundo vivia o auge da crise financeira e em pouco tempo estava pronto o primeiro trabalho de sua verve, A Turbulência Econômica. E começava bem, pela maior e mais importante editora de cordel do Brasil, a Luzeiro, sonho de todo poeta que conheceu o gênero através de suas publicações. Em poucos meses, graças ao  engajamento a edição se esgotara, pois os sindicatos acolheram sua obra e a partir dela promoveram importantes debates. Mas o potiguar ousado percebeu que havia uma lacuna a ser preenchida no meio de outras categorias; foi quando homenageou as mulheres em Mulheres em luta; depois os trabalhadores com O primeiro de maio, e em seguida, sonhou longe querendo  a construção de uma nova central sindical de luta publicando então, A arte de lutar.
O sociólogo Nando sabe da importância do estudo e por isso buscou conhecer mais e melhor a história do cordel, seus autores, suas influências, o meio em que viveram e as condições em que espalharam sua poesia. Partindo deles também espalhou a sua. Após a experiência acumulada lança agora um trabalho a respeito do Jesuíno Brilhante, um homem bem sucedido em sua época, mas que resolveu trilhar pelo cangaço, deixando que a vingança e a violência dominassem o seu coração.
Depois de ler quase tudo que se referisse ao cangaceiro, é assim que Nando o apresenta:

Jesuíno Alves Brilhante,
Agricultor, fazendeiro,
Um homem bem-sucedido
Laçador e bom vaqueiro.
Mas querendo se vingar
Passou a ser cangaceiro.

Escrever sobre Jesuíno tornou-se um desafio, já que pouco se contou sobre ele. Mas o poeta cônscio de sua arte não o teme. É feito o garimpeiro que busca a pedra mais preciosa. Nestas estrofes encontraremos a intrepidez e a coragem de um cangaceiro que enxergava à frente do seu tempo. Homem que respeitava as mulheres, dando-lhes voz, vez, espaço e respeito.

Para entrar no seu bando,
Cumpriria o mandamento:
Não tocar no que é alheio,
Mulher, só no casamento.
Todos os membros que entrassem
Faziam esse juramento.

Roubar era de fato proibido ainda que fosse para servir ao bando. Mesmo entre os violentos existem regras a serem cumpridas. Mas viver à margem da lei e da ordem tem seu preço e com Jesuíno não fora diferente. A perseguição e a espada, a bala e o punhal estavam em seu encalço e por conta da sua rebeldia terminou tombando pelo poder constituído. O Estado só não tem força maior que o povo, pois este, caso queira, poderá desestruturá-lo. Todavia, no caso de Jesuíno era apenas ele o seu bando.
Aqui, Nando Poeta conduz o leitor a conhecer a saga de um dos mais importantes cangaceiros da história. Boa leitura.

Varneci Nascimento
São Paulo – novembro de 2012.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

IV ANIVERSÁRIO DA CARAVANA DO CORDEL E I SALÃO DO CORDEL



DATA: 06, 07 e 08 de Dezembro de 2012

Local: Biblioteca do Memorial da América Latina/SP (Estação Barra Funda do Metrô)

Quinta feira - 06/12/12

Abertura – 19h
João Gomes de Sá
Luiz Wilson
Márcio Dedéu
Zé da Lua – (Bloco do Baião)
(Lançamento do livro Vida e obra de Gonzagão, de Cacá Lopes)
Chico Salles

Sexta Feira - 07/12/2012
01 – O Universo do Cordel na Literatura Infanto Juvenil.
10h. Fábio Sombra
Mediador Varneci Nascimento

02 – Ilustração no Cordel: da capa cega à policromia.
14h. Marco Haurélio
15h - Lançamento do livro “A Cartomante” (Machado de Assis)
Adaptação para o Cordel de Antônio Barreto

19h - Sarau aberto:
Participações: Costa Senna, Nando Poeta, João Gomes de Sá, Moreira de Acopiara, Cleusa Santo, Chico Sales, Paulo Araujo, Suely Valeriano, Francis Osmar, Bosco Maciel, Geraldo Maia, Rousi Gonçalves, Zé Walter, Antônio Barreto.

Sábado, 08/12/2012
Cordel & Cinema.
10h - Aderaldo Luciano
Mediador Nando Poeta

15h: Lançamento coletivo
16h: Homenagens (Apresentação Aldy Carvalho e Cleusa Santo)
17h: Grupo de Teatro Estação Café – Guaxupé/MG
18h: Sarau (Coordenação Moreira de Acopiara)

Nomes que participarão do sarau:

Cacá Lopes, Aldy Carvalho, Eufra Modesto, Cleusa Santo, Benedita Dellazari, Josué Gonçalves, Luiz Wilson, Pedro Monteiro, Nando Poeta, João Gomes de Sá, Paulo Araújo, Suely Valeriano, Francis Osmar, Zé Walter, Geraldo Maia, Rousi Gonçalves, Jocélio Amaro, Bosco Maciel e demais poetas presentes.

20h: Encerramento, com o cantor Moraes Moreira e o Show Moraes pé de Serra.


domingo, 11 de novembro de 2012

PROJETO MEU PRIMEIRO LIVRO É ENCERRADO EM CESÁRIO LANGE



 No último dia 09/11 estive, a convite da Editora Espaço Idea na cidade de Cesário Lange, para o encerramento do Projeto Meu Primeiro Livro. No evento aconteceu o lançamento dos livros escritos pelos alunos, após longa e extensa pesquisa feita por todos os alunos da rede municipal de ensino, coordenados pelos professores. Tive a oportunidade de falar de cordel para pais, alunos, e os demais professores que ainda não tinha encontrado nos cursos que ministrei na cidade. O evento contou com a participação do prefeito municipal, secretários, vereadores, enfim foi uma noite memorável. Agradecemos a todos os envolvidos nesta magnífica tarefa de educar.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

VIVA AS MULHERES DO CORDEL



 As mulheres estão cada vez mais entrando no mundo da poesia. Agora foi a vez da paulista Fátima Fílon lançar seu primeiro cordel pela Luzeiro, intitulado O SILICONE. Os que classificam o cordel como literatura regional estão sendo obrigados a mudar o termo, porque o cordel está presente em todo o Brasil. Fátima além de poetiza, é palestrante e atua na região de Campinas, levando a semente do cordel em escolas, universidades, enfim onde é chamada.
Abaixo segue as primeiras estrofes do seu trabalho:

A onda do silicone
Arrastou mais de uma milha,
Fez à velha virar moça,
A mamãe igual à filha,
Entregue ao doutorzão
Para renovar a pilha.

Assim dizia o letreiro,
Propaganda colorida,
E a fila se estendia
Contornando a avenida.
Há muita gente vaidosa
Brincando com sua vida.

Entra feia e sai bonita,
Se for velha sai mais nova.
Só parece o fim do mundo
O doutor é minha prova,
Fica ali observando
A feiúra em desova.

Já conheço seu trabalho,
Mas não posso assegurar
Se vai durar só um mês
Ou logo não vai prestar,
Desmanchar estando feito
Até chego a duvidar.

Mais informações:
16 páginas
ISBN 978-85-7410-112-5
R$ 3,00
Capa: Walfredo de Brito
Editora Luzeiro (11) 5585-1800

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

MAIS MULHERES LANÇAM CORDEL EM SÃO PAULO


Além das poetisas Cleusa Santo e Benedita Dellazari chegou ao meio cordeliano a Eloyr Carré lançando seu primeiro cordel. Eloyr Carré nasceu em Cruz Alta – RS, que mora em São Paulo há alguns anos, o que prova a vitalidade desta arte. Professora que descobriu sua verve poética nas aulas ministradas pela poetisa Cleusa que tem feito um trabalho árduo de divulgação do cordel pela cidade de São Paulo.
Abaixo a sinopse do cordel:
‘‘As fábulas de Esopo influenciaram a literatura e a vida social em todas as épocas. O gênio grego apontou caminhos mais brandos e lúdicos para falar de nossas pequenas doutrinas. Agora, por Eloyr Carré, deságuam no mar de rimas do cordel brasileiro.’’
Mais informações:
16 páginas
ISBN 978-85-7410-122-4
R$ 3,00
Editora Luzeiro (11) 5585-1800

sábado, 27 de outubro de 2012

LANÇADO OS LIVROS EM CAPELA DO ALTO



No último dia 26/10 a Editora Espaço Idea juntamente com a Secretaria de Educação de Capela do Alto - SP encerrou o Projeto Meu Primeiro Livro com o lançamento dos livros e a participação de todos os professores da rede municipal. Foi um sucesso total. O evento foi prestigiado por cerca de quatrocentas pessoas, entre elas o prefeito da cidade Marcelo, que ficou encantado com tudo que foi apresentado. Os alunos que representaram os quase quatro mil colegas, estavam radiantes e seus pais orgulhosos pela participação dos seus filhos nesse projeto ousado e inovador. Ministrei palestra para todos os presentes. Estes eventos estão se tornando um marco para a divulgação do cordel pelo interior de São Paulo.
Na foto o aluno Rafael um dos escritores da noite.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

APONTAMENTOS PARA UMA HISTÓRIA CRÍTICA DO CORDEL BRASILEIRO


Durante os últimos 40 anos os estudos sobre o cordel brasileiro ficaram estáticos. As poucas tentativas de pensá-lo caíram no fácil caminho da repetição. Para muitos esse produto cultural vive paralisado na primeira metade do séc. XX, como um fóssil. Repetem-se os mesmos chavões nos quais ele foi sendo sepultado.

Surge agora, com este volume crítico, um caminho diferente para esses estudos. O autor, respaldado por vasta pesquisa, busca saída para os labirintos que lhe acompanharam desde a infância: terá realmente o cordel vindo de Portugal? Qual a verdadeira relação entre o cordel e o universo dos cantadores repentistas?  É verdade que os cordéis sempre foram vendidos pendurados em um barbante, nas feiras livres? O cordel é poesia brasileira?

Aderaldo Luciano é doutor em Ciência da Literatura e este livro representa uma parte de sua tese de doutoramento na Universidade Federal do Rio Janeiro. Procura responder as perguntas questionando as respostas sempre dadas e apresentando elementos comprobatórios para a formação de um novo olhar sobre o cordel brasileiro, fruto de longos anos de averiguação.

Nota: este livro foi em lançado em parceria com as Edições Adaga:
Mais informações:
96 páginas
ISBN 978-85-66161-00-7
R$ 20,00
Editora Luzeiro (11) 5585-1800
edicoes.adaga@gmail.com

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

EDITORA LUZEIRO LANÇA GABRIELA EM CORDEL



A editora Luzeiro inaugura um novo tempo e coloca em seu catálogo uma das grandes obras escritas por Manoel D’Almeida Filho, um dos mais consagrados autores de cordel. Amigo de Jorge Amado que era, verteu este romance para a linguagem do cordel que agora ganha mais uma edição, enriquecido pelas ilustrações de Walfredo de Brito, o livro traz a apresentação de Aderaldo Luciano:

(...)
Mas eis que resolve escrever em cordel a sua visão da novela Gabriela, cravo e canela, transmitida pela televisão em 1975, adaptada do romance homônimo de autoria de Jorge Amado. Como não poderia deixar de ser, aventura-se pela narrativa longa para apresentar seu filtro sobre a cidade de Ilhéus, seus personagens em conflito e suas mulheres exuberantes, oferecendo o calor de seus seios e a sedução de seus corpos no amor pago, entre as paredes do obsequioso Bataclã. Todos e tudo comandados pela mão de ferro e pelo ferro na mão do poderoso Coronel Ramiro. A história corre solta no estilo precioso do autor cujo narrador, a serviço da boa narrativa, aparteia o leitor sempre que quer mudar a cena observada ou os fatos apresentados.

Mais informações:
96 páginas
ISBN 978-85-7410-123-1
R$ 20,00
Editora Luzeiro (11) 5585-1800

domingo, 14 de outubro de 2012

UM DOS VILÕES DA HISTÓRIA CAI DO CAVALO



A trama que construí no cordel A BESTA DO APOCALIPSE E O AMOR DE AGRIPINO tem um perigoso vilão chamado João Paulo Assunção filho do coronel Boanerges. Ele recebe uma grande lição de Agripino e por conta disso jura o rapaz de morte. No dia de executar sua grande vingança uma tragédia acontece e João Paulo nunca mais será o mesmo.

Cerca de vinte jagunços,
Daqueles dos mais ferozes,
Cada homem de dois metros,
Dispostos, cruéis, atrozes.
Foram contra os Carcarás,
Os desumanos algozes.

No seu cavalo raçado,
Montou, saiu no embalo.
O séquito da calhordisse,
Decidiu acompanhá-lo.
Em velocidade extrema
Viu João cair do cavalo.

O seu alazão robusto,
Disparado na carreira,
Tropeçou, sem perceber,
Na raiz duma aroeira.
João caiu em baixo dele,
Foi enorme a bagaceira.

Desmaiado, quase morto,
Sem a mínima reação
Fraturou pernas e braços,
Machucou seu coração,
Quebrou uma das costelas,
Que perfurou o pulmão.

Grande corte na cabeça,
Fez-lhe perder muito sangue.
Viu-se a fratura exposta,
Quase lhe deixar exangue.
A coluna vertebral,
Quebrada no bangue-bangue.

Totalmente inconsciente,
Teve a visão no sonho:
“Você não irá morrer”
Disse-lhe alguém risonho:
“Porém ficarão sequelas
Deste estrago medonho”.

A ilustração é de Walfredo de Brito
Quem quiser adquirir entre em contato:
Editora Luzeiro (11) 5585-1800


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

ILUSTRAÇÕES DE A BESTA DO APOCALIPSE E O AMOR DE AGRIPINO



 Além de contar com o trabalho belíssimo de André Mantoano e Severino Ramos, neste ano de 2012, a editora Luzeiro, através de Aderaldo Luciano, conseguiu arrumar mais um ilustrador, o Walfredo de Brito que tem feito algumas ilustrações e capas para nossos cordéis. Um dos primeiros que ilustrou foi este livro meu intitulado A BESTA DO APOCALIPSE E O AMOR DE AGRIPINO. Aqui a primeira ilustração onde o coronel Boanerges é enfrentado pelo senhor Ferdinando, fato que acontece pela primeira vez.  A história é ambientada na cidade de Banzaê no nordeste da Bahia e já está disposta a venda para todo Brasil na editora Luzeiro e com o próprio autor. Abaixo segue as estrofes que dão vida ao desenho:

Prosseguiu fazendo cerca,
Esticando mais arame.
Topou em seu Ferdinando
Que mesmo avesso a vexame:
— Boanerges, minha terra
Tem dono e quem a reclame.

Sou um cidadão de paz,
Ordeiro, sincero amigo.
Não abraçarei mentira,
Nem fugirei do perigo.
Lutarei pelo que tenho,
Defenderei meu abrigo.

— Se não quer vê-la tomada,
Abra preço sem contenda.
— Coronel digo e repito,
Reflita e me compreenda:
A minha propriedade,
Não está disposta a venda!

Nem tampouco a doação,
Desde já fique sabendo,
Só Deus me tira daqui
Enquanto já estou lhe vendo,
Antes da morte chegar,
Imensas dores sofrendo.

Tudo quanto a gente faz
Na terra contra um vivente
Pagamos antes da morte,
É bom ficar consciente:
Da justiça do retorno,
Não se escapa impunemente.

O senhor fez tanta gente
Lutadora ir à miséria.
A fim de satisfazer,
Seu desejo da matéria,
Adotando essa conduta
Doentia e deletéria.

Saiba, nunca tive medo
Da sua selvageria.
Tampouco dos seus jagunços
Treinados na pontaria.
Encontrarão brevemente
O prêmio da covardia!

domingo, 30 de setembro de 2012

HEBE CAMARGO: A RAINHA DA TV em cordel


Meus caros amigos e amigas, após a morte da Hebe Camargo lembrei de um cordel que havia escrito, ainda senão me engano, no ano de 2005. Mandei para o programa dela como uma carta, pedindo uma oportunidade para mostrar o trabalho que desenvolvo com o cordel. Só que nunca obtive respostas. Agora com a sua morte, atualizei o poema, colocando as estrofes no passado. Compartilho aqui com vocês como forma de homenagear essa grande apresentadora. Me solidarizo com a família dela e a homenageio com estes versos de cordel.


Se a TV tem rainha
Está ocupado o cargo
É vitalício e eterno
Jamais sofrerá embargo
Nem destronar a rainha
Chamada Hebe Camargo.

Pois foi lhe dado um encargo:
Causar encanto e magia.
Debatendo uns assuntos
Que a todos contagia.
De forma alegre e fantástica
Transmitia boa energia.

Com toda a sua alegria
Ao Brasil conquistou.
Fez uma carreira sólida
Corajosa impressionou.
Sua história e da tevê
Pra sempre se misturou.

Por muitos anos brilhou,
Construiu a trajetória.
Como cantora também
Encantou, teve vitória.
Proveio do anonimato
Ganhou fama e fez história.

O seu passado de glória
Abrilhantou a carreira.
Contribuiu, fez crescer,
Toda a TV brasileira.
Tornando-a no país,
Forte e alvissareira.

Durante sua vida inteira
Guiou-se pela verdade
Denunciou os ladrões
Cobrou mais honestidade
Dos políticos brasileiros
Em prol da sociedade.

Singeleza, agilidade
Nessa mulher lutadora
Sobrava para emprestar
Por ser tão trabalhadora.
Isto lhe fez no Brasil
Grande apresentadora.

Foi uma desbravadora.
Porque é assim quem pensa.
Sem medo, diversas vezes,
Fez críticas contra a imprensa
Porque segundo, à rainha,
Falsidade não compensa.

Sua projeção imensa
A fez ser tão respeitada
Brincalhona na TV
Fez seu público dar risada
Porque Hebe foi assim,
Tão séria quanto engraçada.

Aos que não fizeram nada
Mesmo nadando em dinheiro
Criticou sem citar nome:
Espertalhão, bandoleiro
Foi a porta-voz dos muitos
Neste solo brasileiro.

Seu sorriso verdadeiro
Para adulto e a criança
Quando ia na AACD
Enchia de esperança
Por seu carinho e afeto
Não sairá da lembrança.

Transmitiu a confiança,
Para a criança doente.
No programa Teleton,
Passou isso a toda gente.
Dizendo aos especiais:
“Não desistam, vão em frente”.

Ágil e bem competente
Soube entrar e sair.
Chorou quando foi preciso,
Porém soube mais sorrir.
Foi solidária com muitos,
Sem jamais se omitir!

Foi capaz de dividir
Acolher gente na dor
Denunciou injustiças
A prática de todo horror.
Recebeu, em seu programa,
Sofredores com amor.

Este ser tão lutador,
Nunca parou de lutar.
Deu pulos de alegria
Mas também soube cantar.
Herdou esse dom do pai
Jamais hesitou mostrar.

Não deixou de ajudar
Quem procurou seu programa
Pois, cantor através dela,
Conseguiu riqueza e fama
Por isso, Hebe, o Brasil,
Chora por ti porque ama.

É enorme a sua fama,
Sua história assim nos diz.
Pois toda segunda feira
Deixava o povo feliz.
Isso lhe fez referência,
Em todo o nosso país.

Dançou, brincou, foi atriz
Encenou, faz pirueta.
E apesar da doença
Parecia uma ninfeta.
Topava ainda um Romeu
Só para ser Julieta.

Jamais suportou mutreta,
Sendo a mulher do carinho.
Cada convidado seu,
Queria ter o gostinho,
De sentir qual era o gosto,
Do seu famoso selinho.

Concluiu o seu caminho,
Felicíssima, formidável,
Foi um ser humano ímpar
Tão raro, quanto amável,
Tê-la na televisão
De fato nos foi louvável.

Outra coisa inegável
Com a Hebe acontecia.
O tempo passa veloz
Entretanto Hebe dizia:
Que o seu vigor da vida
Até rejuvenescia.

Jamais ela esmorecia,
Não foi mulher negativa,
Sua cabeça pensava
Só em coisa positiva.
Até mesmo sua doença
Enfrentou de forma ativa.

Em vida qualitativa
Deu lições na juventude.
Aberta sempre ao novo
Buscou paz e plenitude.
Essa mulher de caráter
De fé e magnitude.

Esbanjando atitude,
Hebe procurou viver.
Passando o melhor de si,
No intuito de poder.
Através do seu programa
Fazer o povo crescer

Esse contínuo prazer
A vida lhe outorgou
Um jeito tão exclusivo
O qual pra tela levou
Sem ela a TV não tinha,
Chegado aonde chegou.

A Tupi que começou,
Pôde com Hebe contar.
Sua contribuição,
Fez nossa TV andar.
Por isso ninguém jamais
Tomará o seu lugar.

Hebe pode descansar,
Enquanto a grande saudade
Do seu público permanece
Ninguém sabe a quantidade.
Dos fãs que você deixou,
Indo para a eternidade.

Este Brasil de verdade
Registrou para valer:
A marca, além do selinho
Tem o “lindinho de viver”
O “gracinha” é seu jargão
Que ninguém vai esquecer.

Seu jeito meigo de ser
Outra igual não aparece.
É marcante, inesquecível.
Disto o povo não esquece.
Que o sol é para todos,
A sombra pra quem merece.

Agora em forma de prece
Fale a nossa nação.
Toda segunda à noite
Dê a sua opinião
Como fez durante anos
Dentro da televisão.

Você deixou a nação
Muito tristonha e chorosa
Mas a vida é assim mesmo,
Tão linda e maravilhosa
Traz e leva uma pessoa,
Seja anônima ou famosa.

Feito joia primorosa,
Lutou tanto e alcançou.
Uma carreira brilhante
A TV lhe consagrou
Saiu da vida, porém
Seu grande nome deixou.

A sua fama ficou
Registrada em competência
Provando o quanto é alto
Seu índice de audiência
Causando nas emissoras
Temerosa turbulência.

Rainha da eficiência
De voz singela e arguta
Encontre com Jesus Cristo
Fale a ele sobre a luta.
Deus lhe abençoe e guarde.
Parabéns pela labuta.

Autor
Varneci Nascimento
varnecicordel@yahoo.com.br