segunda-feira, 19 de março de 2012

A FADA E O GUERREIRO


 
Este é mais um cordel que a Luzeiro retira dos seus arquivos para brindar seus leitores com uma das brilhantes obras do extraordinário poeta Delarme Monteiro da Silva. A Luzeiro tem procurado inovar e manter a tradição na gostosa mistura que tem feito com clássicos do passado e poetas gigantes da atualidade.

Veja as primeiras estrofes:

Deus é governo e juiz,
Promotor e advogado,
É duque, é vassalo, é rei,
É mendigo, é potentado,
Viajante e peregrino,
Guerreiro, forte e ousado.

Já houve tempos atrás
No reino da Palestina,
Um mancebo destemido,
Porém de linhagem fina,
Gostava de aventuras
Tinha vida peregrina.

Não respeitava fantasmas,
Nem duendes, nem visão.
Enfrentava lobisomens,
Não temia valentão
E na defesa dos fracos
Topava qualquer questão.

Certa noite caminhava
Numa montanha rochosa,
De repente ouviu um grito
Bradar uma voz chorosa
Valei-me pai piedoso!
Oh! Como sou desditosa.

A capa é de André Mantoano
ISBN 978-85-7410-071-5

Mais informações entre em contato com a Luzeiro
(11) 5585-1800


domingo, 11 de março de 2012

ANTOLOGIA DO CORDEL BRASILEIRO



Organização de Marco Haurélio

A Global Editora, mantendo seu firme propósito de publicar temas ligados à brasilidade, leva a literatura de cordel mais uma vez às livrarias. Sob a organização do poeta, cordelista e pesquisador da cultura popular brasileira Marco Haurélio, Antologia do cordel brasileiro chega ao catálogo da editora. 
Para os envolvidos e estudiosos do assunto, são notórias a dúvida e as discussões acerca da origem do cordel. De onde veio? Como surgiu? Quando foi seu início? O que se sabe com segurança é que a literatura de cordel é uma arte cada vez mais presente e manifestada nas feiras e praças não só do Nordeste como também em outras regiões do Brasil. 
Marco Haurélio coligiu os textos desta antologia de maneira que o resultado mostrasse ao leitor quanto está apurada a literatura de cordel no Brasil. Os textos que compõem a coletânea são assinados por cordelistas de diferentes gerações. A obra é totalmente ilustrada com xilogravuras de Erivaldo, um dos nomes mais representativos dessa arte e o responsável por mais de uma centena de ilustrações em livros e folhetos de cordel. 
Como não poderia deixar de ser, Leandro Gomes de Barros, considerado por muitos o pioneiro deste gênero, abre o livro com o cordel “O soldado jogador”. Também estão presentes na Antologia do cordel brasileiro histórias de José Pacheco, Manoel D’Almeida Filho, Antônio Teodoro dos Santos, Francisco Sales Arêda e Manoel Pereira Sobrinho. A força da atual geração de cordelistas é verificada nos textos de Pedro Monteiro, Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Evaristo Geraldo da Silva e Klévisson Viana, entre outros. 
Nesta obra, o leitor terá acesso a um conjunto variado de cordéis, desde aqueles inspirados no conto maravilhoso, ou conto de fadas, como outros em que predominam mitos da Grécia Antiga e até alguns que deitam raízes nas histórias de animais. 
Marco Haurélio chama a atenção do leitor para a importância desta antologia por ser a primeira a apresentar autores de todas as gerações do cordel no Brasil: “Os poetas contemporâneos, em especial, quase sempre são deixados de lado pelos estudiosos, que se embaraçam na busca pelas origens do cordel, ou se perdem no labirinto de obviedades dos que confundem este gênero com a poesia matuta ou com o canto improvisado dos repentistas”. 
Diferente do que muitos pensam, a literatura de cordel está cada vez mais viva e, nos últimos anos, tem ultrapassado a fronteira dos folhetos e dos livros. Prova disso é a sua presença marcante em diferentes manifestações artísticas. Em 2011, a telenovela Cordel Encantado, veiculada pela Rede Globo, obteve índices consideráveis de audiência. Neste ano de 2012, no Carnaval do Rio de Janeiro, a tradicional escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, representada pelas cores vermelho e branco, levará à Marquês de Sapucaí o tema “Cordel Branco e Encarnado”. 
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Sobre o organizador: Marco Haurélio, poeta popular baiano, professor, folclorista e editor, é um dos nomes de maior destaque na literatura de cordel da atualidade. Ministra oficinas e palestras sobre cordel e cultura popular em todo o Brasil. É autor de vários livros para adultos e crianças. Pela Global Editora, publicou Meus romances de cordel, uma coletânea de suas melhores composições. 

Título: ANTOLOGIA DO CORDEL BRASILEIRO 
Organização: MARCO HAURÉLIO 
Editor: Gustavo Henrique Tuna 
Páginas: 256 

Preço: R$ 37,00 


sexta-feira, 9 de março de 2012

A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO – UM CLÁSSICO DO CORDEL



APRESENTAÇÃO

Nenhum personagem foi mais descrito pelo cordel do que Lampião. Sem sombra de dúvida, essa literatura ajudou a mitificá-lo, pois na linguagem cordeliana é o assombro do sertão. Dizem até que o poeta que se preza, terá dedicado ao menos uma obra ao cangaceiro. Encontramos viagens poéticas sobre ele no gracejo, ficção, bravura, crueldade, bondade, religiosidade, enfim centenas de títulos descrevem o homem temido e respeitado, amado e odiado por muitos.
Há quem diga que Lampião era líder de um movimento social, outros apenas um facínora da pior espécie. Confusões e distorções a parte, o certo é que existem clássicos a seu respeito que ultrapassam gerações e encantam leitores dos mais variados. Lembrando alguns citamos Os cabras de Lampião de Manoel D’Almeida Filho, considerada a melhor biografia de Virgulino e seu bando. Lampião o Rei do Cangaço de Antônio Teodoro dos Santos, e outro título interessante Lampião e sua história toda contada em versos de Antônio Américo de Medeiros.
Na ficção, são incontáveis as obras acerca do pernambucano que deu muito trabalho as volantes e que na visão do poeta Costa Senna, só foi possível, porque teria uma proteção misteriosa apontada em Lampião e o seu escudo invisível. A chegada de Lampião no céu de Rodolfo Coelho Cavalcante é mais um clássico; Lampião e Maria Bonita no Paraíso, tentados por satanás de Jotabarros; A chegada de Lampião no Purgatório de Luiz Gonzaga de Lima entre outros. No entanto, indubitavelmente o mais famoso, é este que tem a primeira estrofe bastante conhecida:

Um cabra de Lampião,
Por nome Pilão-Deitado,
Que morreu numa trincheira
Um certo tempo passado,
Agora pelo sertão
Anda correndo visão,
Fazendo mal-assombrado.

Pelo intróito percebemos que é uma ficção carregada de bravura, graça e poesia. José Pacheco, cônscio de sua arte, leva seu leitor a lê-lo avidamente, ansioso pelo desfecho. Descreve minuciosamente como se deu a visita do cangaceiro ao local conhecido por todos como do mal. Imagens como estas, reforçam cada vez mais que Virgulino Ferreira era tão valente que enfrentava até mesmo o diabo.
Neste mesmo folheto acompanha A grande briga de Lampião com a moça que virou cachorra. A peleja ocorre numa sexta-feira da Paixão, dia que, segundo a tradição cristã é de reflexão sobre a morte do Cristo, no entanto Lampião, valente que era não teria respeitado.
Na Peleja dum cantador de coco com o Diabo, o autor insere uma linguagem própria da embolada, e por destoar da tradição cordeliana, não contém suas características fundamentais, diferentemente do texto O prazer do rico e o sofrimento do pobre, que fecha esta publicação, onde Pacheco, mostra sua capacidade poética, numa síntese magistral da vida do rico e do pobre. Boa leitura a todos.

Varneci Nascimento
São Paulo - 2012

segunda-feira, 5 de março de 2012

PELEJA DO CEGO ADERALDO COM ZÉ PRETINHO DO TUCUM



Nota. Este cordel de Firmino Teixeira do Amaral ganhou uma nova roupagem na reedição feita pela editora Luzeiro. Abaixo segue a apresentação da nova edição:

A peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, escrita por volta do ano de 1916, está entre os clássicos do cordel brasileiro. Apesar do preconceito, presente em toda narrativa, a obra ultrapassou esse limite, porque nela as pessoas veem que a cor da pele e a cegueira não são obstáculos para nenhum ser humano chegar aonde deseja. Todavia é necessário entender as circunstâncias em que a peleja foi concebida.
Não que justifique, mas na época, em que a obra foi escrita, o fim da escravidão ainda era recente na história do Brasil. Foram mais de três séculos de exploração servil, violência e assassinato. Várias gerações brancas oprimiram os negros, bem como milhões desses irmãos nasceram condenados a privação da liberdade. Daí porque, uma coisa entranhada por muitos séculos na cabeça das pessoas, aparece também na pena de Firmino.
Aos cegos também faltou apenas o trabalho forçado, mas quem tinha esta deficiência sempre foi condenado a viver trancado, vítima duas vezes, da cegueira e da indiferença. A sociedade, historicamente hipócrita, sempre lhe dispensou agressões, desrespeito e humilhações.
Por muito tempo atribuiu-se a autoria deste cordel ao próprio Cego Aderaldo, que nunca fez questão de desmenti-la. As duas personagens, tanto o Cego quanto o Zé Pretinho, são vítimas, dos mais nefastos preconceitos, um por conta da cegueira e o outro pelo fato de ser negro, respectivamente. Talvez o preconceito contido no texto fosse até inconsciente, porque enquanto o Cego não ganha a disputa, o negro é exaltado por todos os presentes na cantoria e Aderaldo, mesmo diz que para Zé Pretinho serviram um lauto jantar, a ele restou apenas um café e umas bolachinhas minguadas.
No início da cantoria o Cego Aderaldo começa a elogiar Zé Pretinho mas, este, se achando superior, por supostamente pensar que o cego está distante da cultura, como se a cegueira prejudicasse os outros sentidos, lhe ofende chamando de coxo,  bruto, etc...
O guia de Aderaldo o alertou para que tomasse cuidado com o Zé Pretinho, talvez por isso, Firmino coloca na boca do Cego as seguintes palavras:

Então eu disse: — Seu Zé,
Sei que o senhor tem ciência —
Me parece que é dotado
Da Divina Providência!
Vamos saudar esse povo,
Com sua justa excelência!

Mas essas palavras elogiosas darão lugar a outras muito agressivas. Por isso, pesquisas mostram que perto do fim da vida, o cantador que usara rabeca, instrumento incomum na cantoria, teria pedido desculpas a comunidade negra, pelo seu cantar ofensivo. Todavia, se o Zé Pretinho tivesse existido, certamente, por uma questão de consciência moral, haveria de se redimir com os cegos, pelo seu tratamento rude.
O valor literário dessa obra é imensurável dada a sua capacidade de provocar reflexão em torno do preconceito. O professor pode usá-la na sala de aula no debate dessa chaga ainda presente em nossos dias. Avaliar a obra e não seu autor, é a prática coerente dos bons críticos, portanto se alguém disser que Firmino seja o que aparenta na peleja, pode cometer um erro. Questões a parte, este piauiense é considerado um dos grandes poetas do Brasil, a quem o cordel lhe rende homenagens.
A segunda história contida nesta publicação é a Peleja do Cego Aderaldo com Jaca Mole, este primo do Zé Pretinho. Como toda boa peleja segue na linha do desafio e demonstração de conhecimento de ambas as partes. Mais uma vez o Cego sai vitorioso.

Varneci Nascimento
Poeta cordelista

sexta-feira, 2 de março de 2012

HISTÓRIA SERTANEJA DO VALENTE ZÉ GARCIA



João Melchíades Ferreira da Silva

Nota. Este cordel de João Melchíades Ferreira da Silva foi muito deturpado ao longo da história e agora ganhou uma nova roupagem na reedição feita pela editora Luzeiro. Tivemos o cuidado de pegar uma das edições mais antigas para chegarmos o mais próximo possível do original. Abaixo segue a apresentação:

No início do cordel brasileiro, houve pouca preocupação com a questão autoral, por isso, é comum encontrar pessoas se apoderando da obra de outrem, como a velha conhecida história do Pavão Misterioso para citar aqui o caso mais famoso que envolve este autor.
O leitor da Luzeiro, atento que é, deve ter notado uma significativa mudança na roupagem do nosso material impresso nos últimos anos, pois cordel é literatura e como tal, merece um tratamento digno pela grandeza e beleza que possui.
A presente obra foi muito deturpada ao longo dos anos, e sem querer buscar culpados, mas tratar a história do cordel com zelo, fomos atrás de edições mais antigas onde descobrimos que até seu nome foi alterado de História sertaneja do valente Zé Garcia para História do valente sertanejo Zé Garcia. Assim, o personagem que é do Seridó passou a ser sertanejo, sendo que, quem é sertaneja é a história.
O título original tem um ritmo cadenciado próprio do cordel, o que não acontece na segunda nomeação, todavia isso não é o mais grave, o pior é a falta de respeito à memória do seu autor João Melchíades Ferreira da Silva.
No texto procuramos chegar o mais perto possível do original, pois a edição anterior estava eivada de equívocos, que um autor desse quilate dificilmente cometeria.
Uma das pioneiras na publicação do cordel, a Luzeiro tem o dever cultural de ficar atenta para que essa literatura seja cada vez mais respeitada e valorizada e a memória dos autores respeitada.
Neste clássico veremos o jovem José Garcia, vítima de calúnia, pela qual seu pai manda-o para a casa de um amigo a fim de livrá-lo da fúria do cangaceiro Militão que vai ao tenente João Garcia alegando que José teria mexido em sua filha. Como não devia nada, o rapaz só aceita viajar por obediência ao pai e não por medo de briga e acusações levianas.
Na casa do capitão Feitosa, Zé Garcia mostra que de fato é um homem destemido, pois além de excelente vaqueiro, o único capaz de enfrentar o touro “Saia Branca” temido por todos da região, se engraça por Primarosa, filha do coronel Cincinato, moça que ele carrega com a ajuda da filha de Feitosa para quem arruma um irmão seu para se casar com ela.
Eis, portanto um enredo cheio de tramas e confusões. Será que o amor triunfará? Vale a pena descobrir lendo mais essa fascinante história.

Varneci Nascimento
São Paulo, 2011.