Adriana Del Ré
Das feiras populares nordestinas às livrarias. Esse tem sido uma travessia cada vez mais comum para o cordel, gênero literário genuinamente brasileiro. Vindo da tradição oral e, depois, publicado como folheto a preços baixos, esse tipo de poesia popular passou a ser editado no formato de livros, sobretudo nas adaptações de clássicos mundiais. O mercado editorial interessado nesse filão acaba de ganhar reforço: a nova coleção Contos em Cordel, da Panda Books, que inicia suas atividades com dois títulos: Branca de Neve, dos Irmãos Grimm, e O Pequeno Polegar, de Charles Perrault.
Nesta primeira edição, cada um deles foi lançado com tiragem de 3 mil exemplares. As adaptações dos dois clássicos para o cordel são de autoria de Varneci Nascimento e as ilustrações , de Rogério Coelho (O Pequeno Polegar) e Andrea Ebert (Branca de Neve). “Nossa ideia é lançar dois livros por ano”, diz Varneci. Estudioso dessa literatura, ele é autor de mais de 200 obras em cordel, das quais 52 já foram publicadas no formato de livros ou folhetos.
Além disso, ele também presta consultoria à tradicional Editora Luzeiro, baseada em São Paulo e há 60 anos especializada na publicação de folhetos de cordel. “Decidimos mexer no nosso catálogo para valorizar essa cultura”, diz Tatiana Fulas, coordenadora editorial da Panda Books. Segundo ela, a coleção tem como alvo o público infanto-juvenil, a partir dos 9 anos, como ferramenta para auxiliar nessa fase importante de formação de leitores. “O professor pode trabalhar esse material rico com os alunos, comparando a narrativa com a poesia”, sugere a coordenadora da Panda.
Aliás, o fato de o cordel ter sido recomendado dentro das salas de aula pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, do MEC, fez com que as editoras investissem ainda mais nas próprias coleções do gênero. “No ano passado, só para a rede pública de ensino, vendemos cerca de 26 mil exemplares de cada um de três títulos, que são adaptações de A Megera Domada, O Corcunda de Notre-Dame e Os Miseráveis”, afirma Marco Haurélio, que já trabalhou na Luzeiro e atualmente coordena a coleção Clássicos em Cordel, da Editora Nova Alexandria.
“O cordel publicado em livro ainda causa estranhamento, porque alguns pesquisadores o relacionam com folhetos. Mas a literatura, como um todo, precisa acompanhar a evolução. Podemos manter o pé na vanguarda, sem abandonar a tradição”, diz.
Há quem diga que o cordel tenha nascido no Brasil, sem qualquer herança externa, como defende Varneci Nascimento. Outro pesquisador do assunto, Haurélio também defende essa legitimidade nacional do gênero, mas acredita que haja matrizes longínquas em lugares como Europa e África. “O cordel nasceu na Paraíba, no final do século 19. Um dos nossos primeiros cordelistas – senão o primeiro – foi Leandro Gomes de Barros. Ele criou todos os temas trabalhados até hoje”, conta Haurélio.
Importante editora cearense especializada em cordel, a IMEPH começou a atuar fortemente no mercado editorial a partir de 2005. “De 70% a 80% dos títulos que editamos é em formato de cordel”, diz Lucinda Marques de Azevedo, sócia da editora. Atualmente, a rede de ensino pública é uma das principais parceiras da empresa. “A venda em livrarias ainda é muito pequena. Nos últimos 3 anos, o total de títulos vendidos em cordel chega próximo a 200 mil exemplares”, diz ela.
“Entre 2007 e 2008, vendemos 98 mil livros para o projeto Alfabetização de Jovens e Adultos, do MEC”. A editora, que está se consolidando no Nordeste, quer expandir. “Nossa ideia é conseguir distribuidores para ampliar a possibilidade de mercado para nós. Estaremos em São Paulo, para participar da Bienal do Livro”, diz.
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/jt-variedades/das-feiras-para-a-livraria/
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