quarta-feira, 19 de novembro de 2025

O RACISMO E O AMOR SÃO SENTIMENTOS DE HUMANOS - Waldeci Ferreira Chagas

 


O racismo por mais desumano que seja, é um sentimento/comportamento manifestado por seres humanos, ou seja, é praticado por um ser racional chamado homem e mulher que pensa, estuda e tem acesso ao conhecimento científico.

Portanto, o racismo não decorre da falta de conhecimento, é produto de um tipo de conhecimento colonial, cujos pensadores a serviço do poder e do capitalismo propagaram a ideia de que a humanidade é composta de uma raça branca superior e outra negra inferior, e se utilizam dessa condição para discriminar as pessoas negras a quem os pensadores colonialistas consideraram inferior.

A prática desse comportamento contra a pessoa negra ainda é recorrente no século XXI, e denota o quanto as sociedades, por mais evoluídas que sejam consideradas, não superaram a compreensão dos brancos como superior e dos negros como intelectualmente inferior, o que faz com que a pessoa negra na sua maioria ocupe os espaços sociais menos qualificados e no mercado de trabalho exerçam funções e profissões socialmente desprestigiadas. É preciso olhar a sociedade sem hierarquizar os sujeitos em superior e inferior. Olhá-los como capazes.

Logo, se apresenta estranho aos olhos da sociedade quando uma pessoa negra está num lugar de poder e de prestígio social. Geralmente uma pessoa negra no lugar de poder não é enxergada como normal, e ainda se questiona sua capacidade para estar em tal lugar. Esse tipo de comportamento denota o quanto a sociedade brasileira é racista, à medida que não se incomoda com o contrário, ou seja, o fato de a maioria negra no Brasil ocupar os espaços periféricos destituídos de condições de existência humana e exercer no mercado de trabalho as funções menos remuneradas. A sociedade trata como natural, e normaliza essa e outras condições atribuídas a pessoa negra, a exemplo da morte de jovens negros decorrente da violência policial.

Por sua vez, o racismo além de impedir a pessoa negra de ocupar os espaços de poder de decisão e elaboração de políticas públicas, atinge também as relações interpessoais e afetivas, o que amplia o raio de desumanização e faz com que em algumas famílias brasileiras o casamento interracial ainda seja visto de modo atravessado, ou como um problema que só com o tempo será resolvido com o rapaz negro ou a moça negra demonstrando para a família da moça branca ou do rapaz branco com quem se casou a sua capacidade e competência.

Comumente famílias brancas formulam respostas das mais diversas naturezas com o intuito de explicar o relacionamento do/a filho/a branco/a com uma pessoa negra. As respostas são as mais positivas possíveis e funcionam como uma espécie de compensação e justificam o relacionamento interracial, de modo que seja aceito/aprovado pela sociedade

Geralmente famílias brancas recorrem ao fato de a pessoa negra com quem seu filho/a casou ser um profissional competente e bem-sucedido. O fato é que as famílias brancas ainda recorrem a um atributo positivo da pessoa negra que justifique ela se casar com seu filho/a branco/a, o que funciona como compensação. Ele é negro/a, mas é médico/a, é doutor/a.

Esse tipo de comportamento é uma evidência de que a sociedade brasileira ainda não superou o racismo, o que faz com que nem mesmo o amor de uma pessoa negra por uma branca e vice-versa seja suficiente para superá-lo. Tal comportamento é o que o escritor Varneci Nascimento discute, quando na sua obra, questiona o/a leitor/a “O Amor vence o Racismo?” Com tal título e questionamento, o escritor possibilita ao/a leitor/a discutir e compreender sobre tema tão árduo e duro, mais ainda recorrente na sociedade brasileira, e que há quem insista fazer vistas grosas.

Disse o sociólogo Florestan Fernandes que o Brasil tem preconceito de ser preconceituoso, o que faz com que não admita a realidade dos fatos, enfrente-o e supere. Na obra “O Amor vence o Racismo?”, Varneci Nascimento, escancara a realidade, rasga o verbo e possibilita ao leitor/a através do cordel enxergar o quanto o racismo está entranhado no cotidiano da sociedade, e como ele se manifesta, ainda que seja comum pessoas afirmarem que não são racistas. Basta uma pessoa negra ousar integrar-se a família branca pela via do matrimonio que as relações mudam de tom e de tratamento.

O escritor e poeta Varneci Nascimento recorre a força da literatura de cordel, cuja linguagem possibilita a todas as pessoas, independente de escolaridade compreenderem o fato narrado, visto que no cordel, ainda que os versos se transformem em palavras escritas em papel, são também musicais, pois vem do íntimo de quem o produz, e está diretamente relacionado as coisas da vida. Ficção? Pode ser, mas o fato narrado/cantado/versado é pura realidade vivida.

O racismo na narrativa ficcional é real. O enredo do romance entre Cecilia, uma moça branca e João Batista, um rapaz negro, que se apaixonam e resolvem levar adiante tal relacionamento fundamentado no amor, ainda que seja uma criação de Varneci Nascimento, diz sobre a realidade brasileira. Assim tal escritor/poeta revela o modo como enxerga a sociedade em que vive.

No Brasil é comum mulheres brancas contarem histórias dos infortúnios sociais que enfrentaram porque se enamoraram de homens negros, enfrentaram pais violentos e machista, assim como a sociedade patriarcal e foram viver seus amores em preto e branco.

Desta feita, na obra “O Amor vence o Racismo?”, Varneci Nascimento, escancara outro mal da sociedade moderna contemporânea, o patriarcalismo, e sua relação com o machismo, e racismo e nos mostra como esse trio anda junto e insiste em se perpetuar, à medida que mulheres ainda são submetidas as normas sociais estabelecidas pelos homens brancos.

Até quando essa tríade comportamental se manterá? Não se sabe, mas sabe-se que mulheres tem ousado e desafiado e enfrentado a sociedade e construído novos padrões de comportamentos, paradigmas, novas possibilidades de amar, viver e ser feliz, e assim tem destruído esse trio que insiste em se manter. Certamente muitas Cecília tem feito isso Brasil a fora, muitas existiram e existirão, assim como muitos escritores/poetas/artistas que recorrem a arte para escancarar os males que a sociedade insiste varrer para debaixo do tapete e continuar recebendo os convidados na sala de visita como se nada de ruim existisse.

O racismo é maléfico, adoece, aprisiona e mata, o amor, aproxima, é saudável, liberta e cura. É isso que a obra “O Amor vence o Racismo?”, de Varneci Nascimento nos ensina.

Para saber mais sobre o livro, clique abaixo.

https://varnecicordel-com-br.lojaintegrada.com.br/o-amor-vence-o-racismo

 

 

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