A RESPEITO DE OLIVEIROS E FERRABRÁS
Leandro Gomes de
Barros é, sem qualquer sombra de dúvida, o pai do cordel brasileiro. Não só por
ter sido pioneiro nas publicações ou ter inventado a profissão de
autor-editor-revendedor de folhetos. Também, e talvez seja o indício mais
forte, por ter experimentado todas as formas, estilos e modalidades poéticas.
Experimentou para depurar. Degustou quadras, sextilhas, septilhas, décimas,
martelos e outras estrofações. Foi do cordel ao soneto, cançonetas, odes,
paródias. Provou das pelejas, contos universais, novelas ibéricas. Enveredou
pelos temas sociais, cantou a cidade do Recife, glosou com outros amigos
poetas. Crítico contumaz, observador político, não teve medo de errar, nem de
quebrar o pé de algum verso. Rebuscou sua escrita e fundou o seu “marco
brasileiro”. Ninguém o superou. Pelo contrário, qualquer referência à poesia
cordelística obrigatoriamente deverá citar o filho de Pombal.
Dentro de sua
produção encontraremos a fundação das adaptações para o cordel brasileiro das
novelas clássicas europeias como Donzela Teodora, João da Cruz, O Rei Miséria,
Branca de Neve, Juvenal e o Dragão, entre outros. Contemplando, ainda, esse
veio do cordel brasileiro, nos deparamos com esse capítulo da História de
Carlos Magno: a Batalha de Oliveiros e Ferrabrás. Alguns pesquisadores, e
muitos poetas, acreditam existir um ciclo carolíngio no cordel do Brasil por
conta desse poema de Leandro. Não acredito. Primeiro por não aceitar a
classificação em ciclos, segundo por não encontrar um número significativo de
obras dentro do todo cordelístico que satisfaça esse olhar. Supondo que se
possa classificar o cordel em ciclos, pergunta-se como se caracteriza um ciclo,
o que o determina. A resposta seria a presença de uma produção expressiva no
bojo da produção total do cordel, bem como seu prolongamento no tempo e no
espaço.
Não é o que se vê
nesse caso de Carlos Magno. Podemos listar, além dos folhetos de Leandro, esta
Batalha e a Prisão de Oliveiros, quantos outros títulos? Talvez não cheguem a
dez. Considerando a produção de cordel no Brasil, digamos 50 mil títulos numa
contagem sem qualquer suporte palpável, cinco ou dez folhetos nada representam.
Agora, olhemos para sua produção no tempo. Quantos folhetos sobre Carlos Magno
foram produzidos no ano de 2011? Talvez um, mas não coloca o Rei de França em
outras aventuras, a não ser nessa célebre batalha. E no espaço? Não constam
folhetos sobre a cavalaria carolíngia escritos e publicados em São Paulo, ou no
Rio, recentemente. Argumento fazendo a analogia com Lampião: em todos os tempos
e em vários lugares haverá sempre um poema sobre o herói nordestino e o número
de títulos no qual é protagonista aumenta a cada dia. Entretanto isso é só mais
um debate. O mais importante é que, com ciclo ou sem ciclo, deve-se a Leandro a
inauguração da presença de Carlos Magno e seus doze pares de França na
Literatura Brasileira, e não só no cordel.
Aderaldo
Luciano, doutor em Letras pela UFRJ
Fevereiro de 2012
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