domingo, 4 de setembro de 2011

O TRIUNFO DO POETA PEDRO MONTEIRO


Pedro Monteiro é um danado. Depois de visitar o universo dos heróis picarescos com Chicó, o Menino das Cem Mentiras e João Grilo, um Presepeiro no Palácio, Pedro se volta, agora, para cenários e personagens que fazem lembrar as Mil e Uma Noites. Mas não nos enganemos: O Triunfo do Poeta no Reino do Cafundó – lançado recentemente pela Luzeiro – integra o mesmo rol dos anteriores, embora, aqui, o burlesco não se revele de imediato e, mesmo no final, só seja percebido por olhares mais perspicazes. As estrofes do introito demonstram que a literatura é a soma do talento individual à capacidade de garimpar no inconsciente coletivo: 

Certa vez imaginando 
A nossa ancestralidade, 
Joguei luz no pensamento, 
E busquei na oralidade 
Histórias que se perderam 
No vão da modernidade. 

Peguei caneta e papel, 
Remexi nos meus lembrados, 
Invoquei sabedoria 
Dos nossos antepassados, 
Lembrei-me da minha avó 
Fazendo seus proseados. 

Ela falava que um reino 
Chamado de Cafundó 
Tinha um monarca viúvo 
De nome Halabadjó, 
Que dizia descender 
Do patriarca Jacó. 

Este Rei tinha uma filha 
Pronta para se casar. 
Por ela ser unigênita, 
Era preciso arranjar 
Um pretendente que fosse 
Apto para governar. 

Maristela era o seu nome 
Uma formosa donzela, 
O Rei invocou a Vênus 
Para ser tutora dela. 
Nos encantos, esta deusa 
Foi generosa com ela. 

Sua feição parecia 
O brilho celestial, 
Um primor de formosura, 
Uma arte escultural, 
Como o fulgor da aurora 
No rebento matinal. 

Foi assim que certo dia 
Halabadjó publicou 
Um edital informando 
Que sua corte aprovou 
E aquela sucessão 
Ele assim normatizou. 

A regra daquele edito 
Foi por um sábio proposta: 
Seria feito a disputa 
Entre pergunta e resposta, 
Somente o sábio dos sábios 
Venceria aquela aposta. 

(...) 

Aparecerá, depois, outro rei cruel, de nome Nagib, que mudará as regras do jogo e instituirá a pena de morte para quem não responder às suas ardilosas perguntas: 

Este Rei era Nagib, 
Homem de muita ruindade. 
Para com o Halabadjó 
Agia sem lealdade 
Pra transformar Cafundó 
Num império de maldade. 

Um poeta, de nome Valdemar, tentará interromper a cadeia de maldades impostas pelo tirano. Sua chegada ao reino e o encontro com a princesa Maristela é um interlúdio romântico, necessário à identificação do protagonista: 

Ela, quando viu o moço, 
Ficou impressionada, 
Sua beleza era tanta 
Podendo ser comparada 
Ao brilho do deus Apolo 
Sobre uma flor encantada. 

Não é novo na literatura de cordel o motivo das perguntas e respostas. Figura no grande clássico História da Donzela Teodora, de Leandro Gomes de Barros, e nas Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima. Câmara Cascudo recolheu o conto As Perguntas de D. Lobo, reproduzido no Contos Tradicionais do Brasil, em que o personagem-título é derrotado por um moço que lhe faz a seguinte pergunta: “Quem é que nasceu de uma Virgem, batizou-se num rio e morreu numa cruz?”. D. Lobo, que era o Diabo sob disfarce, sem poder pronunciar o sagrado nome de Jesus, acaba derrotado. O rei Nagib da fabulação de Pedro, encarnando o mal absoluto, é uma caricatura do Diabo dos contos de adivinhação. 

Saudamos, assim, mais um triunfo do poeta Pedro Monteiro que a cada novo título enriquece mais o cordel, gênero que ele adotou como profissão de fé e ao qual tem prestado valorosos serviços. 

Esta e outras obras podem ser pedidas à 
Editora Luzeiro 
R. Dr. Nogueira Martins, 538 
CEP.: 04143-020 Saúde 
São Paulo – SP 
Telefone: (011) 5585-1800 
E-mail:
vendas@editoraluzeiro.com.br 

Um comentário:

Pedro Monteiro disse...

Muito obrigado poeta, você é mesmo um semeador de poesias...! Sou grato!
Abraço