Esse é mais uma obra contemplada pelo Prêmio Mais
Cultura – Edital Patativa do Assaré – 2010. O texto de Josué Gonçalves de
Araújo foi ilustrado por Severino Ramos.
Abaixo a APRESENTAÇÃO
A figura do diabo popularizou-se
no Nordeste brasileiro com o cordel. Todavia, diferente daquele elemento
medonho, dono de maldades e tenebroso, oriundo da magia negra, senhor das
trevas, encontramos nas sextilhas cordelísticas um ser que, apesar de conservar
sua face maligna, transforma-se em uma ferramenta de riso, secretário do humor,
ambulante carrancudo da gargalhada. Parece paradoxal, mas foi a forma de os
leitores e ouvintes verem-se vingados.
Portador de alcunhas as mais
diversas, o infiel desfila, neste poema que apresento, como o coisa-ruim, o
tinhoso, chifrudo, capeta, arrenegado, bicho-papão, transformando-se de
encarnação do terror em oráculo da benignidade ao revelar, sem o saber, os
enigmas necessários ao herói do poema para que seja bem sucedido em sua missão.
É o conto de Grimm adaptado às estrofes clássicas do cordel. É a representação
universal do vencedor que todos ousamos ser. O caminho para a redenção dos
depauperados, pelas artes mágicas.
Josué estreou no cordel, na Luzeiro,
com uma trama original O coronel
avarento (ou O homem que a terra
rejeitou) e seguiu o caminho com O
mistério da pele da novilha. Antes, embrenhara-se pelo conto e pelo
romance, treinou sonetos, mas foi no embate com o cordel que sentiu ter
encontrado seu caminho. Segundo diz, iniciou-se tarde. O cordel, entretanto,
alojou-se em seu coração desde quando ouviu, pela primeira vez, os antigos
versos das histórias pioneiras jorrando da leitura ritmada de Sá Maria, sua
avó.
O valente João Acaba-Mundo foi seu
herói primevo, seu modelo, durante aqueles primeiros dias, posteriores à
audição. Ali, o cordel escolhera mais um. Passados 50 anos, escreve sua
primeira página cordelial. Movido pela ansiedade, satisfeito com a
receptividade de estreia — o meio cordelístico paulistano o abraçara —, coisa
que move todo iniciante, Josué partiu para a produção e publicação de suas
histórias. Seu encontro com a Caravana do Cordel foi decisivo, amadureceu sua
prática poética e estabilizou sua necessidade de escrever.
Agora, senhor do seu ofício,
conhecedor das nuanças caprichosas dessa forma poética, foi agraciado com o
Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 – Edição Patativa do Assaré,
do Ministério da Cultura. Todos nós nos emocionamos ao vê-lo em segundo lugar,
ultrapassado apenas pelo Mestre Azulão. Este folheto é o produto vencedor.
Encontraremos uma letra leve e escorreita, que sabe narrar e descrever. Em suas
rimas ouviremos a boa sonoridade desejada. Em sua métrica o resultado do estudo
aplicado.
Com a publicação de Os três fios de cabelo de ouro do diabo, consolida-se
em seu labor literário, cumprindo, assim como o filho da sorte de seu cordel,
mais uma etapa de sua missão. Sabendo que o rio, com seu barqueiro mal
humorado, ainda está longe de se fazer presente, acreditamos que sua inspiração
nos presenteará em breve com outra história original, saída diretamente para o
cordel, oferecendo-lhe o caminho da continuidade criativa. Josué sabe, com
todas as certezas, que é o cordel quem escolhe e não o poeta.
Aderaldo Luciano, doutor em Letras
Rio de Janeiro, novembro de 2011
Mais informações sobre este cordel entre em contato
com o seu autor pelo e-mail: josuegaraujo@gmail.com
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