domingo, 24 de novembro de 2013


VIDA E MORTE DE LAMPIÃO é o primeiro título de cordel de Marciano Medeiros lançado pela editora Luzeiro. Abaixo segue um pequeno texto de apresentação.



APRESENTAÇÃO



Mais um cordel decanta a saga do famoso cangaceiro. Desta vez, é um poeta potiguar que se embrenhou pelas estradas percorridas pelo mito nordestino, acompanhado do seu séquito. Esta obra traz algumas particularidades que carecem de uma explicação para que o leitor, atento que é, não pense que contém erros ou que foram deixados aleatoriamente, sem uma razão preponderante. Após ler extensa bibliografia, a ideia foi ganhando contornos e traços e se transformou em versos, seguindo as regras fixas do cordel. Marciano Medeiros é cônscio da necessidade e importância de cuidar bem do texto, de tratá-lo como um filho para que, futuramente, sua faina poética lhe consagre como um clássico do cordel brasileiro, tal qual os imortais Antônio Teodoro dos Santos, Eneias Tavares dos Santos e Manoel D’Almeida Filho, entre outros.

Neste texto, o autor achou por bem usar a regra da “Deixa”, uma marca indelével da cantoria e dispensável no cordel que, apesar de ter suas regras fixas, está sempre disposto a dialogar com qualquer arte e, por isso, aceita a “Deixa”. Entretanto, não está obrigado por ela e sim pela rima e métrica precisas. A regra da “Deixa” em uma narrativa extensa pode comprometê-la. Todavia, o autor se esforçou ao máximo para atenuar esse entrave. Outro diferencial é referir-se a Lampião chamando-o de Virgolino. Isto porque fez uma consulta acurada e, em seu batistério, foi assim registrado. Portanto, não se trata de algo feito ao bel-prazer, mas sim uma escolha consciente e coerente, baseada em fontes históricas.

O personagem Virgolino está cercado de fatos e mistérios. Quanto mais se fala dele, mais se tem a revelar e acrescentar novos dados à extensa trajetória. Sabemos que o cordel contribuiu enormemente para Lampião ter se tornado o personagem mítico que é, rodeado de encantos, admiração e repulsa. Contendas à parte, o cangaço e seus personagens são fontes de boas histórias que o cordel continuará contando.

A vida de Lampião foi curta, pelo fato de ele ter encurtado a de muitos. Neste personagem, cumpriu-se a passagem evangélica que diz: “quem com um ferro fere, com o mesmo ferro é ferido.” Esta frase nos leva a uma pergunta: o homem é, de fato, um produto do seu meio?

Pela narrativa, o jovem Virgolino estava acima de qualquer suspeita; mas vendo injustiças ocorrerem, não se conteve e passou a ser um justiceiro, impondo a lei que achou pertinente. No ano de 1922 entrou definitivamente para o cangaço e essa trajetória de crimes e confusões durou até o dia 28 de julho de 1938, quando tombou na grota do Angico, morto pelo tenente João Bezerra e sua tropa, numa emboscada que foi articulada à base de tortura e traição, para que os coiteiros Pedro e Durval entregassem o seu protegido.

Esta obra teve sua primeira edição lançada em 2012 e, em pouco tempo, foi esgotada. Veio a segunda e agora ganha nova roupagem para atingir outros públicos Brasil afora. Estão de parabéns Marciano Medeiros e a Editora Luzeiro, ao publicar poetas de todas as partes do Brasil, mostrando que o cordel realmente se consolidou como um gênero literário nacional.



Varneci Nascimento

São Paulo, julho de 2013.

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