quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

AS PALHAÇADAS DE ZÉ ARIGÓ



APRESENTAÇÃO

O cordel é um gênero literário brasileiro, vigoroso e dinâmico, capaz de dialogar com as demais artes, sem perder a originalidade ou ficar “de fora do bonde” da evolução. O gracejo é uma presença constante em seu seio. João Grilo, Pedro Malazartes, Camões, José do Telhado, Cancão de Fogo ganharam destaque nas páginas cordelísticas. Percorrendo as veredas humorísticas, produziram-se títulos sobre o peido, chifre e uma série de obras a respeito de “seu Lunga”, entre outros; com o viés cômico. Quem também ganhou títulos foi Chicó, personagem do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna e parceiro inseparável de João Grilo, este último extraído do cordel à teledramaturgia.
Se os poetas das gerações passadas ofereceram figuras cativantes e engraçadas, chegou a hora de ofertarmos personagens a este gênero. Claro que teremos de “comer muita farinha” para chegar ao nível de Cancão de Fogo, pintado e bordado pela pena magistral do literato Leandro Gomes de Barros. Todavia, não se trata de superar ninguém, pois o foco da cultura é produzir, imitando os predecessores e melhorar, dentro das possibilidades intrínsecas de cada autor. À sua maneira, deixa uma marca única e insubstituível, já que em arte não temos concorrentes e sim parceiros.
Desde o tempo em que apenas lia cordéis e, ao começar escrevê-lo, me encantei com eles, pelo uso da esperteza para “se dar bem na vida”. Mas, ao longo dos anos, fui percebendo que estamos somente dando voltas em torno deles, sem criarmos equivalentes consistentes e capazes de imprimir neste meio o seu jeito de ser, encantar e surpreender os leitores, com a sabedoria inerente a todo amarelinho que busca diante da má sorte e do sofrimento, encontrar alento sem que seja necessário empreender força porque, para esses, conta mais o uso da cabeça em um ócio produtivo, do que um esforço hercúleo, que às vezes não produz nada além do cansaço.
No Nordeste é comum encontrar gente fazendo humor sem a pretensão de ser humorista. Uma resposta perspicaz dada em tempo hábil e inesperado, produz gargalhadas gostosas e quebra a tensão. Ainda criança, ouvia uma pessoa repreender outra por não ter entendido uma explicação ou cometido uma gafe, chamando-a de Arigó ou Zé Arigó; e este nome nunca me saiu da cabeça. Em várias ocasiões chamei os amigos por este apelido.
Após várias pesquisas, achei o nome Arigó ideal para ser levado ao cordel e me embrenhei na aventura que, depois de cinco anos, considero concluída. Claro que poderá e será melhorada; todavia depois da leitura de várias obras e da busca de quem trilha o caminho do gracejo, creio que o texto esteja em condições de chegar às mãos dos admiradores do gênero e daqueles que nunca leram nada nesta linha.
Normalmente estes seres nasceram de maneira misteriosa, como é o caso de João Grilo; mas Zé Arigó é comum e, como sabia dar respostas interessantes, perceberam o seu viés humorístico, razão para estar sempre arrodeado de apreciadores. Isto fez a sua fama e, aos poucos, se transformou em um artista que realizava um show por duas horas e prendia a plateia com o seu jeito cativante.

Fascinante e carismático,
Repertório sempre eclético,
Navegava pelo lúdico,
Do real ao imagético,
Transitava pelo cômico,
Épico, trágico e poético!

Um dado novo colocado nesta obra é a figura do empresário, que percebe o talento de Zé Arigó e começa a vender seu espetáculo. Arigó se encantou com a ideia sem, contudo, se deixar levar pela armadilha da fama, pois sabia o risco que correria caso se embriagasse no vinho doce da vaidade. Com o passar do tempo, o artista percebe que vinha sendo roubado pelo seu representante mercenário.
Ao descobrir a fraude desfaz a pareceria, mas não deixa de fazer humor, pois este dom lhe era inerente. Sente mais em perder o ser humano para o dinheiro do que o dinheiro para o ser humano. Uma história construída pela beleza rímica e pelo hilariante Arigó, que conquistou as mais ecléticas plateias, produziu riso e emoção onde, às vezes, sobrava espaço para tristeza.

Varneci Nascimento
São Paulo, maio de 2014

SERVIÇOS

Capa e ilustrações: Walfredo de Brito
Valor R$: 5,00
ISBN 978-85-7410-188-0
Editora Luzeiro: vendas@editoraluzeiro.com.br

Contato com o autor: varneci@gmail.com

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